Sunday, June 05, 2011

Saudades


"Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades... Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei... Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser... Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro... Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser... Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre! Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências... Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer! Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar! Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade. Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que... não sei onde... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi... Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades Em japonês, em russo, em italiano, em inglês... mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados... para contar dinheiro... fazer amor... declarar sentimentos fortes... seja lá em que lugar do mundo estejamos. Eu acredito que um simples "I miss you" ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades... Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência..."

Clarice Lispector

Thursday, June 02, 2011

A Vida Diante do Mundo


Pode até ser que esse título esteja preciptado, mas entendam, todos nós estamos sujeitos em pensar nisso um dia, nem que seja realmente um dia na vida. O problema, de fato, não são os que pensam pelo menos uma vez na vida, e sim os que morrem sem pelo menos tentar pensar. Me refiro em tentar pensar, porque cá entre nós, existem culturas que de fato foram feita pra quem não pensa. O pagode e o funk estão ai pra provar isso. Mas como eu não vim pra falar dos que não pensam, e sim pra falar com os que pensam, vou mudar logo de assunto.

A vida. A vida, assim como o velho Joseph Climber, é definitivamente uma caixinha de surpresas. Não só pelo que ela lhe reserva, mas também pelo que ela lhe oferece. Eu, particularmente, andei demais por esse mundo e conheci várias qualidades de pessoas. De bom caráter, até as de caráter negociáveis. Eu sei que conversando com pessoas, seja lá qual for a qualidade de seu caráter, aprendi um monte de coisas na vida. Quando passei um tempo em São Paulo, antes de chegar a ir, de fato, minha mãe sempre vivia me falando que muitos paulistas tem preconceito com nordestinos e que eles iriam me humilhar lá. O engraçado disso tudo é que de todos que conheci lá, o único que eu de fato não tive a simpatia, era pernambucamo como. E pra lascar tudo, ele morava no mesmo bairro que eu. Só usei esse exemplo pra ilustrar a ideia da "caixinha de surpresas" da vida, ainda vou chegar onde eu quero.

Ai vem o meu raciocínio. As surpresas que eu recebi, foram de fato quando eu realmente não queria receber surpresas. Pra minha surpresa, tudo que recebi foi de muito bom agrado por mim, e diga-se de passagem, foi bem aproveitado. O lance é que tem presente que não fica, e os que ficam, como manter perto? Ai chegou meu verdadeiro raciocínio. Recebi meus presentes de uma forma que sabia que algum poderia ficar longe de mim de uma hora pra outra. Aliás, se tratando de presentes humanos, pode ter certeza e desconfie, um dia seu presente pode ir embora fácil. Não desistimulando ninguém, nem que toda partida é feita com a intenção de ir embora. Eu mesmo deixei de ter amizades fortes pelo simples fato de ter perdido o contato. Até hoje eu lembro da minha époda de primário que tive um amiguinho de escola chamado Charles. Cresci e saí da escola, e onde está esse Charles? Não sei, nunca voltou pra me dizer onde ele mora. Só sei que os que quiseram ficar, de fato, eu mantenho próximo, seja onde essa pessoa estiver. Escolhi assim, guardando cada um dentro de mim mesmo. Tem gente que eu tenho amizade e está em Brasília, ou sei lá, em São Paulo até, mas estão comigo, sempre. Tem, claro, o calor. Esse por sua vez tá até perto, mas como a vida joga suas surpresas de alguma maneira, nem sempre igual a outra maneira, tá longe ao mesmo tempo. Eu os ouço, eu os vejo, eu os lembro, tudo isso em todos os lugares, não importa onde. Só assim pra mante-los do meu lado sempre, sem precisar de uma simples fotografia, nem nada do tipo. Eu sei que sinto falta, claro, mas como a graça é de fato a surpresa, eu apenas faço vivênciar. Seria muito melhor vivênciar convivendo, mas tudo bem, aceito tudo ao seu tempo. Maldito tempo, já escrevi aqui o quando ele está presente em nossas vidas, mas acredito que eu tanha dito que ele é insuportável. o lance do tempo é que ele trabalha ao lado da vida, na mesma repartição publica, e são chefiados pelo Universo. Com tudo girando em seru torno, tudo que eu poderia desejar é que esse tempo passe logo, e que tudo que me atrapalhe continue trabalhando, mas que não atrapalhe mais ninguém.

Atrapalhos. Até eles seriam uma surpresa? Talvez, mas esses eu faria questão de recusar, se não fossem uma surpresa. Como tudo que se tem na vida é o fato de sentir saudades, sentir nescessidades e sentir desejos, eu sinto saudades por demais, minhas nescessidades estão sendo supridas e meus desejos mandam eu fazer uma loucura na vida, que por sua vez, eu posso muito bem resumir minha vida inteira em loucuras, boas e ruins, claro. Ei sei que no fim das contas, escrevi minha história com participações de várias outras pessoas, e que diga-se de passagem, eu prefiro milhões de vezes assim. Não sou orgulhoso, nem egoísta(pelo menos esse eu tento não sei), por isso mesmo fico feliz em ter alguém, mesmo que por alguns minutos, do meu lado. Eu me conheço, dou valor demais a presença. Gosto de sentir a mão na minha mão. Gosto do abraço do nada. Gosto do gostar e gosto disso tudo de uma vez só. Nem adianta me perguntar a receita de um sorriso bem dado, nem de um bom dia desejado com o coração, porque nem eu sei. Só sei que acima de tudo, eu gosto é de gostar.